sábado, 26 de fevereiro de 2011

Vivo de novo a sina, a memória do desejo,
Acesso de alegria, impulso de criar,
Átomo de arco-íris, sol a rasgar em nuvens,
Sonho maldito, visão/vertigem, sigo faminto a tua imagem.

Dança de vida mais uma vez.
Metamorfose sentida neste mar de tormentas, de dúvidas,
Do que sou, no que sei, no que crio agora.
Chama que consome, gravo-te aqui uma vez mais,
Em telas virgens, inferno de mim.
Arte/procura é símbolo de paixão, calvário de Artistas
Sinto de novo a tua textura, olho a tua cor, forma,
És ardente, dança comigo,
Quero ver-te para lá dos teus sete véus,
Vingar, neste baile da vida, feito de mil cores.
Grito o teu nome Arte/visão/Espaço de Arte, és um mar de sonhos,
Em que me quero por certo afogar.
Vives a meu lado invisível talvez, entendo-te por isso mais agora,
Sei-o bem que, ninguém te pode ter, nem dominar.
És livre, respiro o teu sorriso, num céu sem limites,
Que persigo á longos anos e quero por certo abraçar.
Dança que sei não mais acabar, és alma feita poema,
Fado, tango, fandango, minha chuva de pérolas infinita.
Sinto-te de novo nas cores, na tua dança de Arte/vida,
Enfeitiças-me de desejo de continuar,
Peco-te mostra-te agora aos poucos,
Nas minhas Telas/Ideias feitas de Inferno,
Pintadas em lobo, na verdade de nunca ser Eu.
Sou os cheiros que me derem
O viver um dia de cada vez,
No fio da navalha sem medos.
Canta assim de novo a tua paleta/vida de pintor maldito,
Trinta e dois anos depois nesta tua constante Dança de Vida,
Na procura do que nunca se encontra...

José Silva

Parece que foi ontem e eis-me aqui de novo com "ecos de vida 35". São as minhas verdades, afirmações, caminho de espinhos do artista.
Vinga assim de novo a minha sina.
Foram já tantos os temas por mim abordados e sinto cada vez mais que a Mulher/Mãe é sem sombra de dúvida o meu preferido.
Lembro-me tantas vezes dos teus ensinamentos e de me dizeres que herdei um dom, um jeito, um destino, sei lá! Retenho ainda na memória os meus primeiros lápis de cor e orgulho de os transportar, eram os meus 5anos de criança e todo um Mundo para colorir. Olhos iluminados de sonhos por realizar, e toda uma vida para os concretizar. Dizias-me, acredita!
E os meus primeiros desenhos, o caderno era maior que eu, rabiscava, desenhava, pintava, inventava, coloria tudo o que via, punha-lhes vida, à minha maneira.
Sabe bem recordar e vivo continuando a acreditar, no que pinto no que crio, com as minhas cores e a minha paleta, um mundo melhor, apesar de todos os contratempos.
Os tempos então não eram fáceis, hoje também o não são.
A Arte era uma ilusão, meta difícil de alcançar, mas mesmo assim acreditei e com a minha teimosia e querer lá vou andando, eis-me agora com 35 anos de carreira.
Nesta exposição mostro um pouco de cada tema por mim abordado ao longo destes anos. Pinto em círculos, fazes, mas venho ter sempre ao mesmo lugar. Sou assim. Procuro o meu "Eu" em cada quadro na verdade de nunca me encontrar.
Nestes meus testemunhos, a realidade sofrida, de vidas e das gentes.
Pintarei sempre para ti Mãe.
Invoco ainda nos meus quadros o drama de vida(s), mas também a força e a coragem. São sei-o bem; a tua chama que transporto sempre no meu peito.
És e serás sempre Margarida o meu poema. Sou assim a força que me deste!
E, mesmo fechado o teu livro de vida térrea, ainda pinto os teus sinais nas minhas Telas. Quero arrancar da minha paleta a melhor obra de nós, olhar o teu rosto e ver nesse sorriso lindo a Mulher/Mãe que sempre amarei.
Sabes hoje se pudesse pousava a minha cabeça no teu colo, fechava os olhos, queria sentir as tuas mãos no meu cabelo para me sentir bem, para sonhar, para descansar, de mais esta caminhada.

José Silva